quarta-feira, 28 de abril de 2010

QUANDO



Quando de tudo estiver
desenganado, quando estiver despojado, nu,
livre de vós e de mim,
desprezado de mim comigo,
- no Deserto de Deus
me achareis,
no areal de alumínio,
de lágrimas e de línguas de cristal e fogo,
coberto apenas pelo largo amplo, voo das aves
e do Sol do meio-dia e da meia-noite,
junto ao mar, para lá da montanha, ao fundo do bosque,
lá me vereis, em segredo na concha do búzio da boca
como menino
meu Deus meu Amor meu Senhor invocarei
e direi Senhor fala a teu servo, teu amigo escuta,
e ao espelho da luz me verei acocorado escriba,
túnica de linho,
azul do verde pinho,
meus cabelos entre dedos em desalinho.
Farei minha tenda onde Deus se venha sentar
no redondo banco da Sua solidão -
meu Amor, meu Amor, meu Amor,
minha secreta Paixão.
Eu o Amarei Ele me Amará,
me beijará, sôfrego eu o vejo invisível, o procuro,
Ele me beijará
meu rosto calcinado,
cortado dos vergões da noite,
meu nó na garganta me beijará,
minha cabeça em febre,
meu corpo frio de desejo,
meu pressentimento,
meu arrepio - vento!
Sabeis novas de meu Amigo?
Ai vento e o É!

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