quarta-feira, 28 de abril de 2010



Eu sou o homem da bandeira,

venho de terra estrangeira,

canto e faço à minha maneira.


CÂNTICO A UMA JOVEM MÃE LUSITANIA


Eu canto uma jovem mulher guerreira
olhos de aço,
boca de pedra,
entre o Marão e o Gerês
uma jovem mulher guerreira vive
alta, solar, grávida.
Vive!
Eia sus!
O seu apelo vem
de entre névoa e árvores
para ser Lusitânia outra vez!

QUANDO



Quando de tudo estiver
desenganado, quando estiver despojado, nu,
livre de vós e de mim,
desprezado de mim comigo,
- no Deserto de Deus
me achareis,
no areal de alumínio,
de lágrimas e de línguas de cristal e fogo,
coberto apenas pelo largo amplo, voo das aves
e do Sol do meio-dia e da meia-noite,
junto ao mar, para lá da montanha, ao fundo do bosque,
lá me vereis, em segredo na concha do búzio da boca
como menino
meu Deus meu Amor meu Senhor invocarei
e direi Senhor fala a teu servo, teu amigo escuta,
e ao espelho da luz me verei acocorado escriba,
túnica de linho,
azul do verde pinho,
meus cabelos entre dedos em desalinho.
Farei minha tenda onde Deus se venha sentar
no redondo banco da Sua solidão -
meu Amor, meu Amor, meu Amor,
minha secreta Paixão.
Eu o Amarei Ele me Amará,
me beijará, sôfrego eu o vejo invisível, o procuro,
Ele me beijará
meu rosto calcinado,
cortado dos vergões da noite,
meu nó na garganta me beijará,
minha cabeça em febre,
meu corpo frio de desejo,
meu pressentimento,
meu arrepio - vento!
Sabeis novas de meu Amigo?
Ai vento e o É!

Prece nocturna do Poeta



Senhor!
Se amanhã
quando eu acordar
eu já não souber cantar
nem a harpa dedilhar,
se poeta já não sou,
faz Senhor,
ó Mestre das bocas feras de fogo
e da foice das línguas
que ao menos
continue a ser um homem
e mais do que isso
teu servo e amigo
fazendo contigo
a Obra do Teu Reino.

Senhora Virgem Maria



No meu jardim secreto
Onde como menino
Envergonhado e com medo
Discreto
Pus meus búzios
Meus brinquedos d’outrora
E onde digo meus murmúrios
Meus segredos
E onde rolam meus brinquedos
Na solidão dos meus dedos
Coloquei tua imagem.
Ó Mãe,
Onde te colocaria melhor?
Mas um dia
Ó Senhora Virgem Maria
Quando chegar o último dia
Sejas tu a soprar
a chama
que teu rosto alumia

Lembrando Mestre Boitaca respondendo a D. Manuel I, Rei de Portugal


Senhores Bispos,
Senhores Abades,
Padres fá-los a Igreja
Quantos quer
Lhe aprouver e precisar.
Poetas, fá-los Deus,
Onde, como,
E em quem quer.
Ensina-os dentro do ventre da mãe
a cantar!



Senhor!
Tantos salamaleques,
Salamatriques,
Salamatreques!
Tantas Excelências
Entre nós que somos irmãos,
E que nos devíamos dar as mãos!
Senhor!
Estes,
Será que os temos de por na rua
Para que o teu povo
Entre na tua casa?

Senhores padres
Não se curvem tanto
Não dobrem a espinha tanto
Para que não percam o treino
Quando Cristo vier!

“Senhor radiouvintes - vai falar o Sr. Presidente do Conselho”



Voz alta
cabeça erguida
cara lavada voz clara, firme, segura, forte
como clarim de batalha.
Não há desonra que lhe chegue
não há mácula que lhe valha,
vai da vida à Vitória,
alta cotovia em seu alto canto - império V
da memória até à morte.
Quem vive? Portugal!
Quem fala? Salazar!


Xácara & Escárneo Ao Tempo de Agora


Mesmo
sobre o cadáver da Pátria,
sobre os escombros do Incêndio
— erguem aos ombros,
a sua ambição,
esquecimento e perjúrio, ao juramento
feito ao Rosto, ferido, do Povo
à Nação.
Não têm perdão.
Nem misericórdia, se deve, ao vilipêndio.

Cruz de Ferro



Braço
ao Alto, mão estendida,
Juramento, fidelidade, à
Justiça da cidade,
Sentada na Forca da Vida!

Carta a uma jovem poetisa



Os mais belos poemas
Que fizeste
Foram os que não disseste
Nem escreveste.
Foi aquele copo de água
Que deste
E a luz do meio-dia brilhava.
Foi o beijo que deste
Ao bem-amado que por ti esperava
E foi tudo o que fizeste
E o Arcanjo viu
Gravou
E passou…



Hoje estou bêbado
Sem ter bebido.
Vivi, sem ter vivido.
Morri, sem ter morrido.
Bebi a alegria toda da vida
Bebi a agonia do fim do mundo todo.
Bebi o veneno da verdade
Do abismo mais profundo.

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Quando eu era pequenino a minha mãe dizia
Que eu era uma criança muito dada.
Com efeito assim aconteceu:
A morte, minha madrasta,
Em vida me recebeu.


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O leito macio de trevas,
Da minha mãe de pedra,
Do frio nada
É feito.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Não é tempo, não é tempo...
Não é tempo de mais chorar,
que as lágrimas todas estão mergulhadas
no mar gelado
que há debaixo do fundo do mar.
É o tempo, é o tempo,
é o tempo de cantar.
E no cubo gelado de lágrimas
que há no fundo do mar
acabar o sonho… Trabalhar.